terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Precisamos conversar sobre Matthew Perryman Jones



Texto originalmente publicado no Catavento*

Três artistas americanos habitam o consenso imaginário da música cristã contemporânea: Michael Gungor, Jon Foreman e John Mark McMillan. O primeiro, apesar dos discos em carreira solo e da habilidade com as guitarras, ganhou notoriedade graças ao coletivo formado com a esposa – que agregou também o exímio pianista John Arndt e o multi-instrumentista David Gungor, líderes do The Brilliance.

McMillan foi catapultado ao estrelato com “How He Loves” e vagarosamente mostrou solidez no repertório. Por fim, temos Jon Foreman, de longe o mais conhecido e aclamado do trio. Frontman do Switchfoot, soube usar da simplicidade em suas incursões pelo folk e, atualmente, tem na fase singer-songwriter (ou cantautor, como grifam os lusitanos) um trabalho mais interessante que o rock de arena californiano.

Matthew Perryman Jones não tem distribuição oficial de seus discos no Brasil, não costuma aparecer em listas de “melhores artistas cristãos” (problema resolvido!) e não integra uma grande gravadora americana – apesar de figurar ao lado de Leigh Nash, Andrew Belle e Katie Herzig no Ten Out of Tenn. Ainda assim, o prognata cantautor radicado em Nashville – terra que revelou gente como Johnny Cash e Willie Nelson – cria ambiências propícias à reflexão dignas de grandes nomes da música.

Com uma discografia extensa, iniciada nos idos de 2000, MPJ se equilibra na divisa do folk com o rock alternativo, trazendo à tona nuances do indie, com reverberações, timbres vintage e melodias tocantes. Lembra Ryan Adams em alguns momentos, com um acréscimo de pesar e melancolia na voz, dando tom lúgubre até mesmo às canções supostamente ensolaradas. Depressivo e reflexivo na medida certa.

Em “Echoes of Eden”, do bem produzido “Throwing Punches in the Dark” (2006), Jones entoa: “ecos do Éden / nossos gritos de liberdade / nos levarão àquela Cidade glorificada”. “Save You”, outro hit, traz conflitos à tona: “quero voar para longe / mas estou presa ao chão / me ajude a decidir / me ajude a me maquiar / me ajude a fazer minha cabeça / aquilo não te salvaria?”.



O talento para a construção de estribilhos grudentos rendeu ao compositor dezenas (!) de inserções em um dos terrenos mais férteis do mercado musical americano: as séries de TV. De “Grey’s Anatomy” a “Vampire Diaries”, passando pelo filme “O Que Esperar Quando Está Esperando” (que eu, pai há poucos meses, achei bem engraçado), em tudo há uma pontinha de refrão ou um arranjo que cativa o ouvinte desapercebido.

O próprio Gungor se rendeu à habilidade de MPJ, regravando em “One Wild Life: Soul” (2015) uma versão de “Land of the Living”, faixa-título do álbum lançado em 2012 via financiamento coletivo. Lisa Gungor compartilhou a emoção no twitter da banda: “Michael e eu estamos gravando as primeiras vozes de um cover de MPJ. Estou em lágrimas! ESSA LETRA”, descreveu.


Inúmeras canções merecem destaque ao longo da discografia de Matthew Perryman Jones: “Canción de La Noche”, “O Theo”, “Stones From The Riverbed”, “Capsized”, “Cold Answer”, “Untill The Last Falling Star”, entre tantas outras que nos comovem pelas letras, harmonias e melodias cuidadosamente construídas. E agora que já conversamos sobre, que tal ouvir um pouco de Matthew Perryman Jones?