segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Em Xeque: pra onde vais, Silva?

Texto originalmente publicado no Catavento*

“12 de Maio” deixou de ser uma data comum em 2011, quando o capixaba Lúcio Souza – conhecido até então como tecladista e produtor dos discos “Cidade do Amor”, o melhor da carreira de seu irmão Lucas Souza, e “Esperar é Caminhar”, do Palavrantiga – presenteou o indie pop brasileiro com “SILVA” (2011), EP homônimo que abria seus trabalhos como cantor e revelava o sobrenome menos conhecido da família.

A mistura de dream pop e chillwave criava uma atmosfera nova no cenário nacional, atraindo a atenção das principais revistas especializadas e do selo Slap, da toda-poderosa Som Livre. A diversidade de comparações provava o ineditismo do som do capixaba, apontando de Guilherme Arantes (com toque menos “mão-de-pedreiro”) ao britânico James Blake (em versão medicada com antidepressivos).

“Claridão” (2012, Slap), disco muito aguardado pela imprensa e pela legião de fãs que se formou rapidamente, veio embebido em reflexões e novas texturas eletrônicas. “Paraíso / ninguém vai tirar nossa condição / Deus é riso / e hoje tem luar, tem claridão”, entoava SILVA no refrão da faixa-título, que abusa de loops, sintetizadores e conta até com trechos de canto lírico na salada de experimentos.

O álbum seguinte, “Vista pro Mar” (2014, Slap), produzido na ponte aérea Brasil-Portugal, simplifica as nuances já apresentadas, dando lugar a trompetes, saxofones e outros elementos orgânicos até então incomuns na discografia. Mais um ano se passa e cá estamos nós diante de “Júpiter” (2015, Slap), anunciado pelo próprio SILVA como “o mais minimalista possível”. A contextualização histórica é essencial para a análise.

Em primeiro lugar, é preciso diferenciar minimalismo de simplismo. Construir composições inteiras em torno de um loop, um arranjo ou um conceito não são tarefas fáceis. Em “Eu Sempre Quis”, a estratégia dá certo – principalmente por abrir espaço para as guitarras de Rodolfo Simor, do Solana. Já a batida pobre de “Nas Horas” remete a um R&B preguiçoso. Um Seu Jorge sem gingado.

O tom “sexy” do álbum surpreende. Algumas canções parecem visar à pista de dança – não à toa, o novo cliperevela um Lúcio mais solto, arriscando passos em frente à câmera. O caminho havia sido indicado pelo single “Noite”, lançado também neste ano em parceria com Lulu Santos, especialista no assunto. A fórmula funciona em “Sou Desse Jeito”, mas cansa pela repetição. Falta dinâmica ao disco.

Um dos pontos altos é “Feliz e Ponto”, exatamente pela quebra de ritmo e pela letra sem melodramas. No geral, SILVA parece se aproximar cada vez mais do fofo-pop de Clarice Falcão e Tiago Iorc. Mira no universo das trilhas de novela em “Se Ela Voltar” e “Sufoco”, com rimas de amor adolescente – ambas em parceria com Lucas Souza. Desaparece o tom que marcou “Imergir”, “Cansei” e “Vista Pro Mar”.

“Júpiter pode ser começar de novo”, afirma o compositor em “Júpiter”. A órbita de recomeço que escolheu, porém, parece confusa e sem direção definida. Segue rumo às estrelas globais enquanto se afasta do Sol? O compositor capixaba está longe das marcas autorais que construiu até aqui, sob o risco de transformar-se em “só mais um SILVA” no panteão de nomes da nova MPB.