sexta-feira, 19 de agosto de 2011

a fé que move eleitores

A revista Época discutiu o tema nas últimas eleições

As eleições municipais trazem à tona um velho ingrediente para a discussão política no Espírito Santo: a religião. O número de evangélicos na Grande Vitória, segundo levantamento do Instituto Futura realizado no mês de março, atingiu 35,7% da população. As recentes polêmicas acerca da união homoafetiva e do aborto, que acaloraram o debate na eleição presidencial, dão o tom do que será discutido no pleito de 2012.

A influência das lideranças religiosas sobre o eleitorado cristão alcançou níveis alarmantes. O PLC 122, alvo de críticas e protestos, é exemplo do furor que inflama o movimento protestante brasileiro. Recentemente, até mesmo a presidente Dilma abdicou da distribuição do kit anti-homofobia, frente às ameaças de convocação feitas pela bancada evangélica ao então ministro Antônio Palocci. Apesar do viés político da decisão, a petista sabia o tamanho do confronto que evitava: em meio à guerra de boatos da última campanha, atribuíram à Dilma a autoria da frase “nem mesmo Cristo me tira essa vitória”.

As urnas comprovaram o efeito dos e-mails caluniosos: Marina Silva, membro da Assembleia de Deus – igreja protestante líder na Grande Vitória, segundo o Futura –, arrancou na reta final rumo aos 20 milhões de votos. O tucano José Serra, também atento à movimentação religiosa, se aproximou de lideranças evangélicas e garantiu o apoio público de Silas Malafaia – um dos pastores mais influentes do Brasil e opositor confesso do PLC 122.


Em Vila Velha e Vitória, Marina saiu vitoriosa. Obviamente, não se deve reduzir a candidata à questão religiosa, afinal, seu discurso sobre a preservação ambiental e o crescimento sustentável conquistou adeptos de todos os credos. É fato incontestável, porém, que a política chegou aos púlpitos como “nunca antes na história deste país”. A massa eleitoral das igrejas, sem os calos adquiridos por quem acompanha o tema há tempos, foi facilmente manobrada ao longo das eleições.

Atentos ao panorama político-religioso construído no Estado, os candidatos logo iniciarão a temporada de visitação às igrejas – que neste período se transformam em verdadeiros feudos. Mas nem tudo pode ser tão fácil quanto parece. Amadurecido pela disputa presidencial, o eleitorado cristão pode começar a se organizar de forma inteligente. Espera-se, ao menos, que a discussão não fique polarizada, mais uma vez, entre o profano e o sagrado. Independentemente da fé professada por cada eleitor, pender para a guerra religiosa novamente prejudicará a todos.