sábado, 18 de setembro de 2010

ser cristão não é acreditar em tudo.

Recebi um e-mail com denúncias sobre Dilma (disponível neste link), calunioso e sem fundamento teórico algum - apesar de trazer à tona algumas meias-verdades -, e elaborei essa resposta. Resolvi compartilhá-lo também neste humilde espaço:


Bom, vamos por partes.

Em primeiro lugar, eu discordo completamente desse tipo de divulgação de e-mails sem apuração prévia, e faço questão de tentar desmascará-los. Antes de argumentar, porém, quero deixar claro que não voto na Dilma Rousseff.

Meu voto nessas eleições é da Marina Silva, por tudo que li em seu site, pelas propostas de campanha e pela coerência na vida política - se alguém quiser conversar sobre isso comigo, fique à vontade; nesse e-mail, discuto apenas as "verdades" sobre a Dilma.

Ninguém precisa depreciar outro candidato para defender o seu. A política suja é feita de boatos. Infelizmente, no Brasil, os partidos perderam o hábito de discutir propostas, simplesmente divulgam mentiras/verdades com o objetivo de afetar adversários. Foi assim com Lula em 89, com o Serra, quando disseram que acabaria com o Bolsa Família, e agora, após ler esse e-mail, com a Dilma.

O que é verdade nesse e-mail? Basta dar um google em cada tema e procurar por sites confiáveis que tenham noticiado essas questões. De tudo isso, apenas a posição de Lula a favor do aborto é confirmada.

Segundo o Correio Braziliense, jornal respeitado e atualizado com frequência, em 2009 o Lula tentou descriminalizar o aborto. Ponto. Isso dá a entender que, caso a Dilma seja eleita, lutará também pela descriminalização do aborto.

A Dilma, porém, neste ano, se pronunciou dizendo que o aborto é uma violência contra a mulher. E então? Estaria ela contra o próprio Lula?

Lutaria contra o desejo do partido, que conforme notícia do Congresso em Foco - site independente, ou seja, de menor prestígio e credibilidade - fechou apoio ao aborto em reunião nacional, na qual 17 políticos quase foram expulsos por se declararem anti-aborto (O caso, vale lembrar, não teve repercussão em nenhum outro grande veículo de imprensa).

Nenhuma mulher defende ou diz que quer fazer, porque é uma violência contra ela. Graças a Deus, não tive que fazer, mas conheci quem fez e entrava chorando e saía chorando. Essa não é uma questão pessoal minha, sua ou da Igreja. É saúde pública. A legislação prevê casos, e acho que nesses casos que tratam de condições adversas de gravidez, como a violência, e risco de vida não é possível deixar que mulheres das classes populares utilizem métodos medievais, como agulha de tricô, chás absurdos e outras práticas. Enquanto isso, alguns têm acesso aos serviços de saúde. A legislação brasileira é muito clara.
Um governo não tem que ser a favor ou contra um aborto. Precisa ser a favor de uma política pública, e eu acho que não existe mulher pró-aborto. Na sensibilidade da mulher, o aborto é uma agressão física e a mulher recorre a isso num desespero.
[Dilma Roussef, em maio deste ano]

Com relação ao casamento homossexual, apesar de alguns boatos que circulam nas igrejas, em blogs e sites de credibilidade duvidosa, só conseguimos provar que alguns políticos do PT são favoráveis à união civil entre seres do mesmo sexo. O José Genoíno, deputado federal, ex-presidente do partido, é um deles. Aí cabe a cada um avaliar: será que o ex-presidente do partido tem peso nas decisões do PT, sim ou não? Veja você mesmo as declarações dele publicadas no site do PT durante a Parada Gay em São Paulo, citando o projeto de lei que criminaliza a discriminação e permite o "casamento":

O deputado José Genoino (PT-SP), que também milita pelas causas LGBTs, disse que o amadurecimento político da passeata deve servir de alerta para as autoridades políticas e para o Congresso Nacional. "Foi uma parada bem politizada. Estive na Feira Cultural, que antecede a parada, e foi interessante perceber o quanto o movimento está antenado com os interesses políticos do país. Estamos em um ano eleitoral. O recado ali foi claro, candidatos que discriminam os homossexuais não terão apoio do movimento", destacou Genoino. O parlamentar é autor de uma proposta que prevê a união estável entre pessoas do mesmo sexo e que tramita no Congresso Nacional. [José Genoíno, em junho deste ano]

Com relação à citação de Dilma sobre Jesus Cristo, que é o foco do e-mail, nada é encontrado. Só mesmo sites de cristãos que dão "ctrl + c e ctrl + v" sem conferir o que está escrito caíram na conversa. É só pensar direitinho: Dilma está de olho nos crentes da Assembleia de Deus - igreja da qual Marina Silva faz parte -, subiu ao púpito e falou no aniversário do José Wellington, presidente da CGADB. Será que falaria uma besteira dessas?

E mais: como um furo desses passou desapercebido por tantos veículos de comunicação? A Folha de São Paulo, historicamente tucana, segue passo após passo os candidatos do PT, procurando uma falha sequer. Noticiou todos os escândalos recentes envolvendo Receita Federal e Casa Civil. Será que deixaria barato uma questão tão prejudicial à Dilma?

Concluindo: cuidado com o que você lê e o que escolhe como verdade. Não estou defendendo a Dilma. Apenas argumento que não se deve escolher voto em cima de boatos. Repassar e-mails sem conferir é difamar. Difamar é mentir. E mentir, meus caros, vocês sabem bem o que é. Examine sempre o que está diante dos seus olhos.

Pesquise sobre a vida dos candidatos, seus partidos, suas propostas. Aja como um bom cidadão, não aceite o voto de outros, nem mesmo o da igreja. Pense antes de votar.