terça-feira, 27 de julho de 2010

perdoar é perder (ganhando)

A maior lição sobre perdão que ouvi não veio de dentro da igreja, mas da boca de Tom Jobim. Há alguns anos, conferindo os extras do Ao vivo em Montreal (vale cada centavo), descobri uma entrevista concedida em 1981 ao jornalista Roberto D'ávila, na qual o compositor do (suposto) Samba de Uma Nota Só explica algumas de suas teorias.

Em meio a 10 minutos de conversa (que graças ao Google eu encontrei na internet), Tom fala de forma simples que o perdão é para ser dado. Extraindo radicais aqui e acolá, o brasileiro mostra que, na lingua inglesa, o verbo é, literalmente, for+give (por volta dos 6 minutos). Estava lançada a semente que germinou em minha cabeça.

Não importa quem está certo, perdoar é doar. E doar, como todos sabem, é perder: um pedaço de pão, uma blusa, uma folha de caderno, alguns minutos ou uma vida inteira. Você que chegou a esta altura do texto, já deve ter lembrado da letra de O Vencedor, do Los Hermanos - uma das mais lindas que ouvi e que há anos faz parte do meu repertório ao violão nas rodinhas de amigos:
olha lá quem sempre quer vitória e perde a glória de chorar.
E se é pra chorar, eu - que não rejeito uma boa melancolia - me despeço com o samba que Camelo escreveu para seu tio, Bebeto Castilho. A canção virou tema do álbum Amendoeira, que o barbudão acabou por produzir mais tarde:

Cabe essa tristeza companheira de janela
Deixa que, com ela, a gente fica à vontade
Cabe nos seus galhos o meu peso
Que beleza, Amendoeira
A certeza de ser triste do teu lado