Era apenas uma noite de domingo de 1991 quando, após voltar do culto, aos cinco anos de idade, vi um homem branco, de cabelos longos e negros, utilizando colete e camisa regata brancos, calça preta e sapatos de mesma cor na televisão. Da mistura de guitarra distorcida, bateria eletrônica e dança frenética, guardei apenas o grito recorrente e uma bela melodia. Era Black or White.
Vieram os especiais de fim de ano e, enquanto a maior parte se divertia com os brinquedos distribuídos no Amigo-X da família, gastava tempo em frente à televisão observando os passos daquele desconhecido. Algo de mágico havia na dança de Michael Jackson, que com uma alegria ímpar desafiava a gravidade com seu moonwalking. Gastei toda a sola de meus tênis em frente ao espelho de casa. Sem sucesso.
Poucos anos depois, reconheci a voz do amigo de Macaulay Culkin - este era minha referência na época - na trilha sonora de Free Willy. Will You Be There ressoou por anos dentro de minha cabeça. Foi fácil reconhecer o mesmo arranjo de piano feito por Emerson Pinheiro (este, por sinal, só parece criativo enquanto você não conhece suas fontes) em Jesus É O Rei, da Fernanda Brum.
Foram precisos mais alguns anos até que eu me interessasse realmente por música de qualidade. E não tardei em descobrir Off The Wall, de 1979, disco de estreia do Michael Jackson. Estava selado meu respeito eterno ao músico, cantor, compositor, ator, publicitário, escritor, produtor, diretor, coreógrafo, dançarino e empresário. O título de Rei do Pop, hoje compreendo, não é obra de marketing, mas fruto de um trabalho merecido.
Se os Beatles foram responsáveis por revolucionar o conceito de rock existente na década de 60, Michael Jackson criou o que hoje delimitamos como pop. Não há como pensar em indústria musical sem fazer referência a Thriller, o pai dos clipes bem coreografados, à identidade visual, às roupas e tudo mais que agrega valor à marca 'Michael Jackson'.
Mais que isso, é impossível ouvir sobre sua morte e não se emocionar. Como bem disse Willian Wack no Jornal da Globo: "a vida de Michael Jackson é um retrato da nossa sociedade". Assim como os homens do século XXI, MJ não parte desta para uma melhor. Mesmo sendo gênio, não aprendeu que a beleza da vida está na simplicidade das pequenas coisas: com sua excentricidade, destruiu o sorriso de menino negro dos tempos de Jackson Five.
Sim, este continua sendo um blog sobre música cristã. Mas não há como pensar música sem citar Michael Jackson.