O palavrantiga - eles preferem em minúsculas mesmo - é uma destas bandas formadas por jovens cheios de referências musicais, ideias na cabeça e desejo de soar diferentes. Por estes motivos o quarteto mineiro/capixaba de rock alternativo se coloca em uma seleta lista de artistas que merecem ser apreciados (com moderação).
Volume I - disponível no myspace -, EP da banda que cativa o público para o lançamento do primeiro disco - já em estúdio - explicita dois pontos essenciais para compreender o que é o palavrantiga. Os meninos são criativos, mas se deixam dominar pela opinião pública ao ponto de produzirem, em um mesmo trabalho, canções clichês e geniais.
Esqueça "Casa" e "Pensei". Ambas servem para mostrar que Josias Alexandre aprendeu muito ouvindo The Edge - guitarrista do U2 -, Felipe Vieira e Lucas Fonseca, baixista e baterista, respectivamente, não têm apenas a cidade de Vitória como ponto em comum, e Marcos Almeida lembra, infelizmente, o Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial.
Talvez valha a pena dedicar um pouco de reflexão à "Pensei". Um pouco mais solto, o palavrantiga até ameaça fazer um sambinha no estilo Los Hermanos, mas, me desculpem os capixabas, falta competência técnica. A letra fala de como inibimos o agir de Deus por pensar demais. "É que o Senhor me tocou / Quando esqueci de imaginar".
A melhor faixa do disco é, de longe, "Eu Olhei o Meu Dia". Em progressão harmônica envolvente, a canção dá lugar a um vocalista mais suave, longe do timbre grave de voz que ouvimos nas primeiras canções. Palmas mais uma vez para o guitarrista, que usa e abusa dos efeitos 'estranhos', criando um ambiente único à balada.
Quebrando o clima lento, "Feito de Barro" começa com marcação numérica, semelhante às que o Ramones fazia. Só parece. Cria-se a ilusão de que vão mandar um punk rápido ou um hardcore daqueles, mas logo a sensação passa. Na estrofe mesmo a música perde o tom agressivo, dando lugar a acordes e arranjos mais complexos. Ainda assim, muito gostosa de ouvir.
"Um" é uma balada simples. Tenta se redimir com um arranjo de metal que não fica na cabeça. Lenta boa mesmo é "Deus, Onde Estás?". Com autoridade, o palavrantiga se arrisca em um ramo pouco abordado: a contestação. Desigualdade social, religiosidade e outros conflitos são cantados enquanto voz e cello dão lugar à bateria, gradualmente.
Torço para que, gradualmente, compositores e cantores cristãos deem lugar a esta nova geração, ávida por novos horizontes, novas experiências e novas reflexões. Com jeitinho mineiro e competência, o palavrantiga ganha seu lugar ao sol. E que os raios tragam frescor e inspiração à mente criativa do grupo.